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Motoristas promovem corrida a oficinas para repor peças roubadas
06/05/2016 - CQCS
Roubos de partes e acessórios de veículos se multiplicam em BH e motivam condutores a procurar por revendas. Em apenas uma loja, média supera 100 atendimentos por mês
A fotógrafa Renata Melo, de 31 anos, saía da casa do namorado na manhã de quarta-feira quando descobriu que era a nova vítima de um crime cada vez comum em Belo Horizonte: o furto de retrovisores. No caso dela, duas peças do Honda Fit foram levadas na Rua Acarau, no Bairro Cidade Jardim, Região Centro-Sul da capital. Mesmo com seguro que garante reposição gratuita no primeiro ano, Renata não conteve o choro quando viu a cena. “Era um choro de indignação, de raiva”, descreveu. “Evito ficar com o carro parado na frente da casa do meu namorado, mas foi rápido”, contou.
O furto de retrovisores virou crime lucrativo na capital – há casos de peças podem custar até R$ 8 mil. Em muitos casos, ladrões não levam nem meia hora para retirar as peças. Embora não haja estatística da Polícia Militar, concessionárias, seguradoras e oficinas ouvidas pelo Estado de Minas relataram aumento dos casos na capital mineira. No caso da fotógrafa Renata Melo, embora o seguro cubra a reposição da peça, haverá prejuízo porque o conserto vai demorar. “No sábado, tenho sessão de foto no Jardim Canadá e terei que gastar com transporte particular para ir”, disse. Ela fez questão de registrar a ocorrência na Polícia Militar para que a corporação tenha estatística desse tipo de crime e para tentar inibir o mercado informal em que as peças roubadas são revendidas. “Tenho amigos que tiveram os retrovisores roubados e os encontraram em lojas. Quem rouba vende as peças a preços de banana”, afirmou.
A advogada Ana (nome fictício), de 45, também teve os retrovisores de seu Toyota Corolla furtados. O carro estava estacionado na rua Espírito Santo, na esquina com Rua Gonçalves Dias, no Bairro de Lourdes, na Região Centro-sul. “Foi questão de meia hora. Isso mostra a fragilidade do momento social que estamos passando. Conheço cinco pessoas que tiveram o problema em um mesmo fim de semana”, disse. Na tarde de segunda, ela acionou o seguro para fazer a substituição dos retrovisores, com custo unitário de R$ 1.750.
O aumento no número de furtos de retrovisores de carros de luxo foi verificado pela coordenadora do Departamento de Financiamentos e Seguros da Audi e Nissan, Cláudia Vieira. Segundo ela, apesar da crise econômica pela qual passa o Brasil, as vendas de carros das linhas premium não foram afetadas. Há oito anos, a concessionária vendia uma média de 15 carros de alto luxo por mês. O número passou para 40 por mês.“O aumento do volume de vendas nesse mercado fomenta o mercado paralelo de peças de substituição. Como há muitos carros circulando, cria-se um mercado paralelo para repor”, diz.
Um par de retrovisores do modelo Audi Q3 está avaliado em R$ 7 mil, o que faz com que tenha um alto valor de revenda. “Temos uma média de dois clientes por semana, que vêm para fazer a substituição.” No serviço de pós-venda da Hyundai, o número de clientes que buscam a reposição de retrovisores devido aos furtos também tem crescido, de acordo com o gerente de sinistro da unidade do Buritis, Heverton Brandão. Não tem um dia em que as atendentes não recebem pedido de cotação para a substituição da peça. “Como são carros importados, nem sempre temos as peças no estoque. Às vezes, o cliente fica com o carro parado até 10 dias”, diz. A média de preços de um par de retrovisores é de R$ 3,4 mil. “Nos últimos três meses, aumentaram as solicitações de serviços de troca devido a furtos”, diz. Ele orienta aos clientes que avisem as seguradoras e evitar o mercado paralelo. Caso o cliente tenha que comprar, ele orienta que busque as concessionárias autorizadas.
As filas na empresa de reparação Auto Glass, na Avenida Nossa Senhora do Carmo, passaram ocorrer com mais frequência, de acordo com o supervisor Carlos Cardoso. Com experiência no ramo em cidades como São Luís e Blumenau e Uberlândia, Carlos se surpreendeu com o número de furtos na capital mineira. “Aqui o número de casos é muito alto. Ao que parece há uma quadrilha especializada”, avalia. A oficina atende, em média, cinco clientes para trocar as peças, o que chega a quase 120 por mês, considerando-se os dias úteis.
Dono de uma loja de peças na Avenida Pedro II, José Augusto Nogueira orienta que os clientes se informem sobre a procedência. A alternativa para que o custo fique baixo é remontar peças usadas. Os retrovisores de R$ 4,5 mil podem sair por R$ 1,7 mil. Para baratear, ele diz comprar lotes de peças que foram descartadas por seguradoras e oficinas.