06/10/2015 - Fernando Madeira

As desculpas dadas por motoristas em recursos feitos após terem sido flagrados dirigindo bêbados são as mais variadas

Desculpas dadas por quem bebe e dirige são as mais variadas

Foram só dois copinhos. Bebi para relaxar. Não matei e nem causei danos ao patrimônio. Estas são algumas das desculpas dadas por motoristas em recursos feitos após terem sido multados e tido suas carteiras suspensas ou cassadas. O motivo: foram flagrados dirigindo bêbados.

Em quase 80% dos casos analisados, os condutores foram abordados em blitze ou parados em acidentes com ou sem vítimas. A maioria deles, cerca de 82%, apresentava nível alcoólico de 3, 4 e 5.

Nessas fases, a pessoa tem diminuição de atenção, reações mais lentas, problemas de coordenação e força muscular e baixa capacidade de tomar decisões. A partir do nível 4, o organismo atinge etapas mais comprometidas, como dificuldades de equilíbrio, movimentos e funções visuais e fala arrastada. Chegando no nível 5, vem a diminuição de respostas a estímulos externos, quedas e falta de coordenação motora.

Pesquisa

Os documentos foram analisados em um estudo de iniciação científica de alunos do curso de Psicologia da Multivix Vitória, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes). O alvo foram 290 processos, somente de alcoolemia, e que já tinham passado por todas as instâncias de recursos – defesa prévia, Junta Administrativa de Recursos de Infrações (Jari) e Conselho Estadual de Trânsito (Cetran) –, concluídos no ano de 2013.

Mais tempo de carteira, e com mais infrações no trânsito

Chamou a atenção da equipe fatos como o de três motoristas que foram pegos na mesma semana, praticando o mesmo tipo de infração e no mesmo local. “E ainda assim se sentiam injustiçados. A cassação da carteira não teve efeito no comportamento deles”, observou a aluna Cristyan Karla Nogueira Leal.

Observaram ainda que nos recursos foram utilizados como argumentos brechas na legislação ou questionada a confiabilidade dos equipamentos – bafômetro – ou das equipes. Sem contar os recursos iguais, copiados da internet, onde os motoristas nem se deram ao trabalho de preencher os espaços individuais, ou com desculpas como: “Preciso do carro para trabalhar”, “Faço tratamento contra o câncer”.

“E não estamos falando de qualquer infração, mas de beber e dirigir, duas funções que não podem andar juntas”, observa Adauto Barcelos, aluno da Psicologia da Multivix.

Os resultados deixam claro que os motoristas que apresentaram este tipo de recursos não têm noção da gravidade da infração praticada, como observa a professora Andréa Nascimento, doutora em Psicologia, especialista em trânsito e quem coordenou os trabalhos.

E mais, tentam minimizar a situação para alcançar uma pena mais branda, com argumentos como o de que não houve dano à propriedade ou morte de alguém. “Esquecem que o trânsito é um espaço público onde é preciso cuidar de mim e do outro. Se vacilar, mata uma pessoa”, pondera a professora.

As explicações

Recursos

Para tentar evitar as multas, a suspensão do direito de dirigir ou a cassação da habilitação, os motoristas apresentam vários argumentos para justificar o fato de terem sido flagrados bêbados ao dirigir.

Argumentos

- Não houve acidentes e nenhum dano material.

- Não causei nenhum tipo de lesão corporal ou mesmo uma morte.

- A cassação de minha carteira é uma ação extrema.

- A medida adotada é muito severa, é desproporcional à infração.

- Dirigi sem desrespeitar nenhuma norma de trânsito.

- Só tomei duas taças de vinho.

- O efeito da bebida é diferente em cada pessoa.

- Esse tipo de infração é uma aberração jurídica.

- Só tomei dois copinhos de cerveja.

- Bebi na hora do almoço e só duas tacinhas de vinho.

- Foram só duas taças de espumante.

- Bebi para relaxar.