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Até remédio contra gripe causa acidentes

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06/06/2013 - Frederico Goulart | fgoulart@redegazeta.com.br

Medicamentos como antialérgicos reduzem reflexo ao volante

Carro teria ficado desgovernado após motorista sentir-se mal, em Vitória

Mesmo após a Lei Seca – que ampliou o rigor quanto aos motoristas que bebem e dirigem –, o número de acidentes não para de crescer no Estado. Nos dois primeiros meses deste ano, o aumento foi de 9,5% em relação ao mesmo período de 2012, ano em que, ao todo, foram registradas 23.708 batidas. Os dados fazem especialistas buscarem outras razões para justificar o problema. E entre elas está o uso de medicamentos corriqueiros, como antialérgicos e antigripais, algo muito comum nesta época do ano.

Assim como os antidepressivos, esses remédios diminuem os reflexos da pessoa em até 50%. A mistura com outros medicamentos – anti-hipertensivos, por exemplo – significa um risco maior ainda. “Substâncias diferentes potencializam a sonolência, efeito comum a todos esses medicamentos. É preciso sempre relatar a um especialista o que foi indicado por outro médico”, alerta o médico Leôncio Queiroz Neto, membro da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet).

Segundo a bioquímica toxicologista do Departamento Médico Legal (DML) Josidéia Mendonça, os maiores riscos estão em substâncias como benzodiazepínicos e barbitúricos, presentes em ansiolíticos como Rivotril, Olcadil e Gardenal. “Eles agem diretamente no sistema nervoso central. Tudo depende do organismo, mas quem toma essas substâncias à noite vai acordar sob efeito delas.”

Perigo

Antialérgicos de venda livre também são perigosos. Anti-histamínicos, eles tiram o efeito da histamina, importante para manter os níveis de atenção. Na lista estão antigripais como Coristina e Benegrip. “Normalmente, esses são usados três vezes ao dia, o que aumenta seus efeitos”, diz Josidéia.

Para o comandante do Batalhão de Trânsito da Polícia Militar, coronel Wallace Brandão, essas substâncias oferecem risco semelhante ao do álcool. “É difícil fazer um controle, pois muitos são remédios liberados. Temos que contar com a colaboração dos médicos para avisar sobre o risco de dirigir após tomá-los”, frisa.

Risco é maior para pessoas idosas

Pessoas idosas são as que estão mais suscetíveis a sofrer os reflexos de medicamentos que afetam a atenção no trânsito. Elas têm mais dificuldade para realizar a metabolização das substâncias. Além disso, segundo o médico Leôncio Queiroz, mais da metade dos brasileiros com idade acima de 65 anos mistura diariamente pelo menos cinco medicamentos.

Fique atento

Antialérgicos e Anti-histamínicos

Remédios da 1ª geração (mais antigos)

– Ex: Coristina, Multigrip e Benegrip

– Eles retiram o efeito da histamina, que mantém nosso nível de atenção

Antidepressivos e ansiolíticos

Benzodiazepínicos
– Ex.: Lexotan, Bromazepam, Rivotril, Diazepam e Olcadil

– Causam sonolência e perda de atenção

Barbitúricos
– Ex.: Gardenal

– Provocam efeito hipnótico

Mortes no trânsito (dados do DML)

2013: Três pessoas morreram após uso de medicamento controlado – todos os casos envolveram benzodiazepínicos

2012: Foram registradas três mortes, sendo que todas essas pessoas haviam consumido benzodiazepínicos e duas delas também usaram barbitúrico

2011: Uma pessoa morreu após ter utilizado barbitúrico